Claudio de Moura Castro
Escolha seus
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Pesquisadores da área costumam
brincar que a melhor maneira de ter sucesso na escola é escolher cuidadosamente
os pais. Essa incoerência não deixa de ser instrutiva, pois há uma inexorável
associação entre certos tipos de família e bons resultados na escola. Os filhos
de famílias mais educadas e mais ricas tendem a se sair melhor na escola,
comparados a outros que não têm essas características.
Ilustração Ale Setti |
Mas tal regularidade observada esconde tanto quanto revela. Isso porque filhos de famílias educadas são quase sempre mais prósperos, freqüentam escolas melhores, têm maior acesso a bens culturais e recebem mais atenção da família. Desde que nascem são preparados para a escola. Estaríamos diante de um determinismo odioso, só premiando os que já têm mais?
Houve muitas tentativas de
deslindar as influências de cada um desses fatores. Mas, uma vez que eles vêm
todos embolados, métodos estatísticos complexos são usados para separar o efeito
líquido de cada um. Como as resmas de tabelas produzidas pelo computador são de
interpretação difícil, ficamos sempre com o travo amargo de um problema mal
resolvido.
Mas ficando à espreita, às vezes, a
natureza se deixa apanhar mais desnuda, revelando alguns de seus segredos. Uma
dessas situações ocorreu em uma pesquisa recente em que participei com o
professor José F. Soares, testando alunos dos colégios Pitágoras, de Belo
Horizonte. São colégios que atraem uma clientela bem-educada, de classe social
homogênea e interessada em que seus filhos recebam a melhor educação possível.
Portanto, o que quer que se observe
comparando os alunos dessas escolas não pode ser atribuído a diferenças na
qualidade do ensino ou na maior ou menor educação dos pais. É um resultado
cristalino.
A pesquisa apresentou ao estudante
uma enorme bateria de perguntas acerca do que ele tinha em casa, como livros,
revistas, jornais, enciclopédias, computador, ou de atividades como curso de
informática, inglês, aula particular, visitas a museus e viagens ao exterior.
Montes de respostas foram remexidos
no caldeirão dos modelos estatísticos, na busca dos fatores correlacionados com
o bom desempenho escolar. Mas havia muitas surpresas. Nada do que foi citado
acima pareceu explicar melhores ou piores resultados escolares, ou porque todos
os alunos já tinham o que é realmente importante ou porque tais coisas não são
realmente tão fatais no desempenho escolar.
Mas dois fatores apresentaram um
impacto brutal nos resultados. O primeiro é a atitude dos pais com respeito ao
dever de casa. Quando os pais sistematicamente verificam se os filhos estão
fazendo a lição, o rendimento escolar é muito maior. Não é preciso fazer o dever
do filho nem mesmo ajudar. O que faz a diferença é o acompanhamento próximo,
levando o filho a gastar mais tempo nos estudos.
O segundo fator é a freqüência de
conversas entre pais e filhos. Os pais e mães que dedicam tempo para conversar
com os filhos recebem no fim do mês boletins com notas bem mais altas. A atenção
pessoal, a presença e a interação é que diferenciam resultados medíocres de
resultados excepcionais. Não precisa ser conversa sobre escola; basta ao filho
ter a presença próxima e a interação com os pais.
Esses são resultados alvissareiros.
Imagine-se que fossem as viagens ao exterior e os computadores que fizessem a
diferença. Seria o peso do dinheiro determinando os resultados escolares. Mas
não custa dinheiro ver se a meninada está fazendo seus deveres assiduamente.
Tampouco conversar com os filhos é caro. Ou seja, o segredo do sucesso é barato.
Quando trazemos tais resultados
para situações escolares mais típicas, é preciso certo cuidado, pois pode
parecer que a qualidade da escola, os professores e a forma de ensinar não
importam. Ou que outras características da família sejam irrelevantes – o que
certamente não é o caso. Mas o que nos demonstra o estudo é que, quando tudo
mais é igual, o que faz diferença é a atenção dos pais para a vida escolar e
pessoal dos filhos. E esse conselho serve para todos os pais, pobres ou ricos.
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